Que significado tem o dia dos namorados actualmente?
Artigo de Lana Harari
"Que significado tem o dia dos namorados actualmente? O que é que os namorados celebram nestes tempos em que o "amor cego" foi substituído pelo "amor prudente", um amor que leva os parceiros a viverem uma relação com precauções, empenhando-se para construí-la ao mesmo tempo em que deixam uma porta aberta para sair dela quando ela não os satisfizer mais? Não é fácil viver numa época como a de hoje, em que a liberdade individual e a auto-realização são as principais metas a serem alcançadas. Manter um laço a qualquer preço, nem pensar!
Em 1986, a historiadora Elisabeth Badinter disse: "Antes a solidão do que a coação!" Isso parece explicar o enorme crescimento do número de rompimentos de casal nos últimos anos.
É difícil conciliar individualidade e conjugalidade, viver uma vida pessoal - ocupar-se com a carreira profissional, ter amigos, interesses particulares - e uma vida de intimidade com o parceiro.
Ainda assim, as pessoas procuram-se, querem ficar juntas. É até mal visto "não ter namorado(a)".
A solidão é estigmatizante: "o que será que ele/ela tem de mal?" Em certos casos, a pessoa sozinha acha que tem algum problema, sua auto-imagem é afectada, ela sente que tem uma "deficiência" e isso reforça-se com a exclusão que ela sofre no grupo social. Há uma enorme pressão social que exige que a pessoa se apaixone, encontre o seu par - "a tampa da panela".
Homem e mulher são obrigados a fazer uma escolha romântica recíproca que só pode acontecer espontaneamente! Como sofre aquele que não teve a sorte de ser eleito para viver tal acontecimento da ordem do divino!
Uma vez formado o casal de namorados que conseguiram ter esse encontro, estes vão ter o privilégio de viver a magia da paixão. Os enamorados sentem que se bastam. A força da paixão faz a pessoa exagerar qualidades e minimizar os defeitos do outro, tornando-o desatento a tudo o que poderia inviabilizar a relação. O apaixonado vive emoções intensas de alegria, plenitude, mas também de frustração e medo de perder a pessoa sobre quem ele deposita tantas expectativas: de conseguir apoio para se realizar no trabalho ou para resolver conflitos familiares, de melhorar sua auto-estima ao ver sua imagem reflectida no olhar apaixonado do outro ou de se "contaminar" com as qualidades que ele admira no outro.
Essas expectativas, entretanto, são muitas vezes inconscientes e os desejos mais íntimos acabam por revelar-se de maneira inesperada. A mulher pode parecer querer casar-se para viver apaixonadamente com o marido, mas revelar mais tarde no casamento um forte desejo de independência, uma vontade de estudar e trabalhar e nenhuma vocação para a vida doméstica - ou vice-versa. Já o homem pode mostrar-se fiel durante anos, comprometido mesmo com a namorada e acabar nunca assumindo unir-se a ela por renovar todo os dias a sua escolha de morar sozinho."