Zaratustra (emergindo da sombra de Nietzsche): O homem deve ser educado para a guerra, a mulher para o repouso do guerreiro: fora disto tudo é loucura. O guerreiro não gosta dos frutos adocicados. É por isso que ele ama a mulher; há amargura mesmo na mais doce das mulheres. A mulher melhor do que o homem compreende as crianças, mas o homem é criança, mais do que a mulher. Todo o homem digno desse nome oculta em si uma criança que quer brincar. Assim, mulheres, cuidai de descobrir a criança escondida no homem. Que a mulher seja um brinquedo, puro e delicado semelhante ao diamante, brilhando com as virtudes de um mundo que não existe ainda. Fazei entrar no vosso amor o reflexo de uma estrela longínqua. Que a vossa esperança seja: “Possa eu dar à luz o super-homem!” Que vosso amor seja corajoso! Fortalecidas pelo vosso amor, atacai aquele que vos inspira medo. Ponde a vossa honra no vosso amor. A mulher, aliás, pouco sabe da honra. Mas a vossa honra está em amar mais do que sois amadas e em nunca ficardes em dívida. Que o homem tema a mulher que ama, pois ela não recuará perante sacrifício algum, e tudo o resto lhe parecerá sem valor. Que o homem tema a mulher que odeia, pois o homem, no fundo do seu coração, é maldoso, mas a mulher é malévola. (Qual é o homem que a mulher acima de tudo odeia? O punhal diz ao amante: “É a ti que, acima de tudo, odeio, pois me atrais mas não és suficientemente forte para me guardares junto de ti.”
A felicidade do homem é dizer: “Eu quero”. A felicidade da mulher é poder dizer: “Ele quer”; assim pensa a mulher, quando por amor obedece. E a mulher tem necessidade de obedecer e de dar profundidade à sua superfície. A alma da mulher é superficial, como as águas de um lago sob a tempestade. Mas a alma do homem é profunda, a sua corrente ruge através de grutas subterrâneas: a mulher pressente essa força, mas não a compreende. (Assim Falava Zaratustra: "Das Mulherzinhas Jovens e Velhas", pp. 69 e 70).
**Assim Falava Zaratustra. 4.ª ed. Lisboa : Ed. Presença e Liv. Martins Fontes : 1978