Tentação
Voltei a cair...
De olhos parados no chão, não ouso levantar-me.
Fico ali.
Exposta aos olhares indiscretos e curiosos que teimam em pousar em mim.
Um vazio e uma angustiante sensação de perdição apoderam-se de todos os meus sentidos.
Vejo o reflexo de uma menina sentada nas margens da sua vida de mulher.
Oiço o silêncio de gargalhadas inóspitas e cruéis.
Cheiro a gota de sangue que brota da minha alma.
Tacteio o nada de que é feito o meu corpo.
Saboreio o sal da lágrima que corre livre no meu rosto e acaba cansada na minha boca.
Passaram-se segundos, minutos, horas? Uma vida?
Perdi a noção do tempo e do espaço, a noção dos sentidos.
Que sentido tem a vida?
E a morte?
A vida faz sentido porque vivemos a pensar na morte. Por isso tememos viver, porque sabemos que vamos morrer.
E cair?
Voltei a cair...
Perdida nos pensamentos que atravessam a minha mente, em catadupa, um em cima do outro, em “strob”, piscam piscam silenciosos mas ávidos de se soltarem num grito que não vem.
Calo-me.
Por vergonha? Por falta de coragem? Por timidez? Por não saber...
Não sei levantar-me.
Tenho que nascer de novo. Aprender tudo do início. Passo a passo. Pé ante pé.
Quero levantar-me: retraio-me e opto pela posição fetal, não como retrocesso mas como defesa.
Defendo-me do que ainda está para vir. Tenho medo.
Fecho os olhos e sonho.
Sonho acordada, mas os olhos fecham-se como que a forçar-me a não ver o que me rodeia. O chão, o sangue, as lágrimas, o corpo, os risos, os olhares.
Dói.
Dói-me mudar.
Movo-me em movimentos suaves, imaginando-me num acordar em que me sussurram ao ouvido: “desperta para a vida!"
Não quero abrir os olhos com receio que não tenha passado de mais um devaneio, de mais um sonho a roçar o pesadelo.
Lá ao longe, oiço o estilhaçar de vidros brilhantes e pontiagudos do que terá sido uma garrafa de um qualquer líquido consumido numa festa que termina com a alvorada: “amanhã é dia de trabalho!!"
Mas...vão todos embora? Partem?
E eu?
Então e eu?
Eu, voltei a cair... levanto os olhos em direcção ao céu e como que em jeito de prece: semicerro os dentes e digo para mim mesma, num tom inaudível, mas que aos meus ouvidos parecem gritos agudos e cegos de tão lúcidos:
“Nunca mais. Nunca mais volto a cair. Desta vez foi a última vez que.... caí em tentação!”
Num ápice, ergo-me ainda ébria de mim mesma, sem conseguir tocar-me, olhar-me nem cheirar-me.
Na boca um travo salgado e ao mesmo tempo doce de quem engoliu muitas lágrimas, misturadas com ilusões que trouxeram decepções.
Num cambalear que se poderia assemelhar a uma dança, rumo a parte incerta.
Esboço a expressão mais parecida com um sorriso a que chamo de sorrisar (meio a sorrir meio a sonhar) e vou, sem olhar para trás.
Parto a pensar que nesta caminhada me elevo e olho para baixo.
De olhos parados no chão, não ouso levantar-me.
Fico ali.
Exposta aos olhares indiscretos e curiosos que teimam em pousar em mim.
Um vazio e uma angustiante sensação de perdição apoderam-se de todos os meus sentidos.
Vejo o reflexo de uma menina sentada nas margens da sua vida de mulher.
Oiço o silêncio de gargalhadas inóspitas e cruéis.
Cheiro a gota de sangue que brota da minha alma.
Tacteio o nada de que é feito o meu corpo.
Saboreio o sal da lágrima que corre livre no meu rosto e acaba cansada na minha boca.
Passaram-se segundos, minutos, horas? Uma vida?
Perdi a noção do tempo e do espaço, a noção dos sentidos.
Que sentido tem a vida?
E a morte?
A vida faz sentido porque vivemos a pensar na morte. Por isso tememos viver, porque sabemos que vamos morrer.
E cair?
Voltei a cair...
Perdida nos pensamentos que atravessam a minha mente, em catadupa, um em cima do outro, em “strob”, piscam piscam silenciosos mas ávidos de se soltarem num grito que não vem.
Calo-me.
Por vergonha? Por falta de coragem? Por timidez? Por não saber...
Não sei levantar-me.
Tenho que nascer de novo. Aprender tudo do início. Passo a passo. Pé ante pé.
Quero levantar-me: retraio-me e opto pela posição fetal, não como retrocesso mas como defesa.
Defendo-me do que ainda está para vir. Tenho medo.
Fecho os olhos e sonho.
Sonho acordada, mas os olhos fecham-se como que a forçar-me a não ver o que me rodeia. O chão, o sangue, as lágrimas, o corpo, os risos, os olhares.
Dói.
Dói-me mudar.
Movo-me em movimentos suaves, imaginando-me num acordar em que me sussurram ao ouvido: “desperta para a vida!"
Não quero abrir os olhos com receio que não tenha passado de mais um devaneio, de mais um sonho a roçar o pesadelo.
Lá ao longe, oiço o estilhaçar de vidros brilhantes e pontiagudos do que terá sido uma garrafa de um qualquer líquido consumido numa festa que termina com a alvorada: “amanhã é dia de trabalho!!"
Mas...vão todos embora? Partem?
E eu?
Então e eu?
Eu, voltei a cair... levanto os olhos em direcção ao céu e como que em jeito de prece: semicerro os dentes e digo para mim mesma, num tom inaudível, mas que aos meus ouvidos parecem gritos agudos e cegos de tão lúcidos:
“Nunca mais. Nunca mais volto a cair. Desta vez foi a última vez que.... caí em tentação!”
Num ápice, ergo-me ainda ébria de mim mesma, sem conseguir tocar-me, olhar-me nem cheirar-me.
Na boca um travo salgado e ao mesmo tempo doce de quem engoliu muitas lágrimas, misturadas com ilusões que trouxeram decepções.
Num cambalear que se poderia assemelhar a uma dança, rumo a parte incerta.
Esboço a expressão mais parecida com um sorriso a que chamo de sorrisar (meio a sorrir meio a sonhar) e vou, sem olhar para trás.
Parto a pensar que nesta caminhada me elevo e olho para baixo.
**texto: aprendiz ( 2003 )
**foto: A.rolf
4 Comments:
Dizem que a melhor forma de te livrares de uma tentação é entregares-te a ela.
Será?
**Roque, para que não digas que só escrevo "coisas infantis"!
beijitos! e ainda bem que andas por aí !
O meu mote de vida, há já bastante tempo, é retirado do 'Worstward Ho' de Samuel Becket: «Try Again. Fail Again. Fail Better.» Portanto, caíste, ora levanta-te, prepara-te para cair de novo mas para cair melhor.
Beijos.
"Eles que estão aí, atravancando meu caminho....Eles passarão...
Eu passarinho!" Mário Quintana
Qdo caio não penso em como levantar...penso em como voltar a voar...
Se não caíres de vez em quando, não te estás a esforçar o suficiente...
VP
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