quarta-feira, novembro 30, 2005

Evadido ( Fernando Pessoa )

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Porque não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fingindo
Mas vivo a valer

7 Comments:

Blogger João said...

Tenho alguma dificuldade em perceber poesia. Tenho muito mais dificuldade em escrevê-la. Mas descobri uma coisa: se cortar as frases a meio, abusar dos parágrafos, introduzir espaços e pontuação e iniciar os versos com maíusculas... diabo!, posso fazer, sei lá, posso pegar numa banalidade como não saber das meias e, por exemplo, fazer isto:


Tenho os pés frios

Outra vez

Onde estarão as meias?

Azuis, de algodão, practicamente novas

Onde diabo as coloquei?

Olha que isto...


Foi minha mãe que mas deu

No Natal

E agora não sei delas

Olha que isto...

Sorte marreca


Pronto... que tal...? Bem sei que pode não ser profundo, mas parece-me bem bonito, hein? Claro, não podemos é ler! Mas olhando só para a estrutura...

1:51 da manhã  
Blogger João said...

P.S. - Bjs! Roque

1:58 da manhã  
Blogger Aprendiz said...

ah...olá Roque!!
Olha, não vás mais longe...o próprio Fernando Pessoa tinha destes vaipes..queres ver?


"Tenho uma grande constipação.

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina."

10:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Aurora


A poesia não é voz - é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:

vôo sem pássaro dentro.

Adolfo Casais Monteiro

talvez este pequeno texto ajude o João a perceber a poesia... ou não. :)

5:48 da tarde  
Blogger Aprendiz said...

olha,, eu não percebi nada... :))

seja como for, nada é determinante, nem a forma de fazer poesia...

:o)

6:18 da tarde  
Blogger Aprendiz said...

Em forma de apontamento, queria só lembrar que, mesmo depois de 70 anos da sua morte, o Pessoa continua muito vivo!

:o)

6:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Todos nós temos alguem dentro da nossa cabeça com quem falamos usualmente...

Pronto já tá Fati....


Mto bom gosto
Néu

11:22 da tarde  

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